domingo, 11 de junho de 2017

Verdade desde o princípio


A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre. Salmos 119:160

É absolutamente impossível dar o valor devido ao privilégio de podermos recorrer à Palavra de Deus e encontrar nela, dia a dia, instruções completas sobre todos os pormenores respeitantes à fé e ao nosso serviço.

Tudo que necessitamos é uma vontade submissa, um espírito humilde, e um coração sincero. O livro que Deus deu para nos guiarmos é tão completo como podíamos desejar. Nada mais precisamos. Imaginar, ainda que seja por momentos, que alguma coisa pode ser acrescentada pela sabedoria humana constitui um insulto feito ao cânone sagrado (...).


Atualmente, mais do que em qualquer outra época, é necessário fazer chegar esta lição aos ouvidos da Igreja professa. De toda a parte surgem dúvidas sobre a suficiência divina das Sagradas Escrituras. Nalguns casos estas dúvidas são expressas abertamente e com propósito deliberado; noutros, com menos frequência, são insinuadas encobertamente por meio de alusões ou inferências. Dizem ao navegante cristão, direta ou indiretamente, que a carta divina não basta para os múltiplos e complicados pormenores da viagem—que tem havido tantas alterações no oceano da vida, desde que essa carta foi feita, que, em muitos casos, é inteiramente deficiente para os propósitos da moderna navegação.

Dizem-lhes que as correntes, marés, costas, canais e praias desse oceano são totalmente diferentes agora do que era há alguns séculos, e que, por conseguinte, temos de recorrer ao auxílio, que a moderna navegação dispensa, a fim de suprir as deficiências da velha carta, a qual, admitem, de fato, ter sido perfeita para a época em que foi escrita. O nosso veemente desejo é que o leitor cristão possa, com clareza e decisão, opor-se a este grave insulto feito ao Livro inspirado, do qual cada linha procede do coração do Pai, e foi escrita por homens inspirados por Deus Espírito Santo. Desejamos que possa contestar esse insulto, quer ele se apresente sob a forma de uma audaz blasfêmia ou sob uma astuciosa e plausível inferência. Seja qual for o disfarce com que se apresente, deve a sua origem ao inimigo de Cristo, que é o inimigo da Bíblia e inimigo da alma.

Se, na verdade, a Palavra de Deus não fosse suficiente, então, em que situação ficaríamos? Para onde nos voltaríamos? A quem nos dirigíamos pedindo socorro se o Livro do nosso Pai fosse, de algum modo, defeituoso? Deus diz que o Seu livro "pode instruir-nos perfeitamente para toda boa obra" (2 Tm 3:17). O homem diz: não; há muitas coisas sobre as quais a Bíblia não se pronuncia, e que, todavia, precisamos de saber. Em quem devemos crer? Em Deus ou nos homens? A nossa resposta aos que põem em dúvida a divina suficiência da Escritura é simplesmente esta: Ou não és homem de Deus, ou aquilo para que buscas encontrar aprovação não é "uma boa obra". Isto é bem claro e ninguém poderá vê-lo de outro modo se considerar cuidadosamente a passagem de 2 Timóteo 3:17.

Oh, se tivéssemos um sentimento mais profundo da plenitude, da majestade e da autoridade da Palavra de Deus! Temos absoluta necessidade de ser fortificados neste ponto. Precisamos de um sentimento profundo, vigoroso e constante da autoridade suprema do cânone sagrado e da sua completa suficiência para todos os tempos, climas e posições, para todos os estados pessoais, sociais, e eclesiásticos, de modo a podermos resistir a todos os esforços que o inimigo faz para depreciar este inestimável tesouro.Que os nossos corações compreendam mais do espírito destas palavras do Salmista: "A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre " (SI 119:160).



Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Levítico, 1978, 2ª edição, tradução de Feliciano H. dos Santos.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Palavra de Deus - Parte 4


 "Porque toda carne é como a erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre" (1 Pe 1:24-25)

Aqui temos outra vez o mesmo precioso vínculo de ouro. A Palavra que chegou até nós, na forma de boas novas, é a Palavra do Senhor que permanece para sempre; e por isso a nossa salvação e a nossa paz são tão estáveis como a Palavra sobre a qual estão fundadas. Se toda carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva, então que valor têm os argumentos dos infiéis? São tão desprezíveis como erva seca ou como a flor murcha; e os homens que os expõem e os que são influenciados por eles assim o compreenderão mais tarde ou mais cedo. Oh, a pecaminosa loucura de argumentar contra a Palavra de Deus — argumentar contra a única coisa neste mundo que pode proporcionar descanso e consolação ao pobre e fatigado coração humano —, agir contra aquilo que traz as boas novas de salvação a pobres pecadores —, que as traz diretamente do coração de Deus!

Toda a Escritura é Inspirada por Deus mas podemos deparar aqui talvez com a pergunta tão frequentemente suscitada, e que tem perturbado tantos e os têm induzido a buscar refúgio no que é chamado "A autoridade da Igreja". A pergunta é esta: "Como podemos nós saber que o Livro que chamamos a Bíblia é a Palavra de Deus? A nossa resposta a esta pergunta é muito simples, e é a seguinte: Aquele que nos tem dado graciosamente o bendito Livro pode dar-nos também a certeza de que o Livro procede d'Ele. O mesmo Espírito que inspirou os diversos autores das Sagradas Escrituras pode dar- nos a conhecer que essas Escrituras são a própria voz de Deus falando-nos. E somente pelo Espírito que alguém pode discernir isto. Como já temos visto, "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus... e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

Se o Espírito Santo não nos faz saber e não nos dá a certeza de que Bíblia é a Palavra de Deus, nenhum homem ou corporação humana poderá fazê-lo; e, por outro lado, se Ele nos dá essa bendita certeza não necessitamos do testemunho do homem. Admitimos de bom grado que, nesta grande questão, uma sombra de incerteza seria um positivo tormento e uma calamidade. Mas quem pode dar-nos essa certeza? Somente Deus. Se todos os homens na terra estivessem de acordo no seu testemunho sobre a autoridade da Sagrada Escritura; se todos os concílios que se têm realizado, se todos os doutores que têm ensinado, todos os pais que escreveram estivessem a favor do dogma da inspiração plenária; se a Igreja na sua totalidade, se todas as denominações da cristandade dessem o seu assentimento à verdade que a Bíblia é, realmente, a Palavra de Deus; numa palavra, se tivéssemos toda a autoridade humana possível a respeito da integridade da Palavra de Deus, seria insuficiente como fundamento da certeza; e se a nossa fé fosse baseada sobre essa autoridade, seria inteiramente inútil.

Só Deus pode dar-nos a certeza de que Ele tem falado em Sua Palavra; e, bendito seja o Seu nome, quando Ele nos dá essa certeza, todos os argumentos todos os subterfúgios, todos os sofismas, todas as questões dos infiéis antigos e modernos, são como a espuma sobre as águas, o fumo da chaminé ou o pó do soalho. O verdadeiro crente rejeita-as como sendo desperdícios desprezíveis, e descansa em santa tranquilidade na incomparável revelação que o nosso Deus graciosamente nos tem dado. É da maior importância para o leitor estar absolutamente certo e bem seguro quanto a esta grave questão, se quer elevar- se acima da influência da infidelidade por um lado e da superstição por outro. A infidelidade procura convencer-nos de que Deus não nos tem dado um livro de revelação dos Seus pensamentos — que não poderia dá-lo. A superstição procura convencer-nos de que embora Deus nos tenha dado uma revelação, nós não podemos, todavia ter a certeza disso sem a autoridade do homem, nem entendê-la sem a interpretação do homem.

Ora, é conveniente observar que, em ambos os casos, nós somos privados da preciosa dádiva da Sagrada Escritura. E isto é precisamente o propósito do diabo. Quer roubar-nos a Palavra de Deus; e pode fazer isto quase tão eficientemente por meio da aparente desconfiança própria, que humilde e reverentemente confia na autoridade dos homens sábios e instruídos, como por meio da audaciosa infidelidade que atrevidamente rejeita toda a autoridade, seja humana seja divina.

Pensemos neste exemplo. Um pai escreve uma carta a um filho que reside em Cantão — uma carta cheia do afeto e ternura do coração de um pai. Fala-lhe dos seus planos e preparativos; expõe-lhe tudo quanto julga poder interessar o coração de um filho — tudo quanto o amor do coração de um pai pode imaginar. O filho vai à estação dos correios de Cantão a fim de averiguar se há alguma carta de seu pai. Um funcionário dos correios diz- lhe que não há nenhuma carta, que seu pai não escreveu e não Poderia escrever — que não poderia comunicar de modo algum os seus pensamentos por tal meio; que é apenas tolice pensar tal coisa. Outro funcionário adianta-se e diz: "Sim; há aqui uma carta para você, mas provavelmente o senhor não pode entendê-la; é completamente inútil para você, na realidade só lhe pode causar dano visto que o senhor não é capaz de a ler corretamente. Deve deixar a carta nas nossas mãos e nós explicar-lhe-emos as passagens da mesma que julgarmos mais convenientes." O primeiro destes funcionários representa a infidelidade; o último, a superstição. O filho seria privado da carta desejada por ambos — da preciosa comunicação do coração de seu pai. Mas, nós podemos perguntar, qual seria a resposta a estes indignos funcionários? Podemos estar certos de que seria breve e pertinente. Diria ao primeiro: "Sei que meu pai pode comunicar-me os seus pensamentos por carta, o que ele já tem feito." E diria ao segundo: "Sei que meu pai pode dar-me a entender os seus pensamentos melhor do que os senhores podem fazê-los." Diria a ambos, e isto com ousada e firme decisão: "Deem-me imediatamente a carta de meu pai, é dirigida para mim e ninguém tem o direito de retê-la.”.

Assim também o crente de coração simples pode responder à insolência da infidelidade e à ignorância da superstição—os dois meios da ação do diabo, em nossos dias, para pôr de lado a preciosa Palavra de Deus. "Meu Pai me tem comunicado o Seu pensamento e pode fazer-me compreender a comunicação." "Toda a Escritura divinamente inspirada é." E "Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito." Magnífica resposta para todos os inimigos da preciosa e incomparável revelação de Deus, quer sejam racionalistas ou ritualistas!


Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Deuteronômio.
 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Palavra de Deus - Parte 3


"O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

Quem pensaria em escutar um cego sobre o assunto da luz e a sombra? E, todavia, um tal homem tem mais direito a ser ouvido do que um inconvertido sobre a inspiração. Os conhecimentos humanos, por mais extensos e variados que sejam; a sabedoria humana, por muito profunda que seja não podem qualificar um homem para emitir um juízo sobre a Palavra de Deus. Sem dúvida, um erudito pode examinar e comparar manuscritos simplesmente do ponto de vista crítico; pode ser capaz de formar um juízo quanto à questão de autoridade da leitura de qualquer passagem especial; mas isto é assunto muito diferente de um escritor incrédulo empreender a tarefa de emitir parecer sobre a revelação que Deus, em Sua infinita bondade, nos tem dado.

(...) É somente por intermédio do Espírito, que inspirou as Sagradas Escrituras, que essas Escrituras podem ser compreendidas e apreciadas. A Palavra de Deus deve ser recebida sobre a sua própria autoridade. Se o homem pode julgá-la ou discutir sobre ela, então não é a Palavra de Deus. Deus tem-nos dado uma revelação ou não? Se tem, deve ser absolutamente perfeita em todos os respeitos; e, sendo assim, deve estar inteiramente fora do alcance do juízo humano. O homem não é mais competente para julgar a Escritura do que para julgar a Deus. A Escritura julga o homem; não o homem a Escritura. Nisto está toda a diferença.

Nada pode haver mais miseravelmente vil do que os livros que os infiéis escrevem contra a Bíblia. Cada página, cada parágrafo, cada frase só consegue ilustrar a verdade da afirmação do apóstolo que, "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." A sua crassa ignorância do assunto de que se arriscam a tratar é apenas igual à confiança que têm em si mesmos. Da sua irreverência nada dizemos; pois quem pensaria encontrar reverência nos escritos dos incrédulos? Poderíamos talvez esperar um pouco de modéstia, se não fosse o caso de estarmos plenamente ao fato do ânimo amargo que dá origem a tais escritos e os torna inteiramente indignos de um momento de consideração.

Outros livros podem ser submetidos a um exame desapaixonado; mas o precioso Livro de Deus é abordado com a conclusão prévia de que não é uma revelação divina, porque, na verdade, os incrédulos dizem-nos que Deus não podia dar-nos uma revelação escrita dos Seus pensamentos. Como é estranho! Os homens podem dar-nos uma revelação dos seus pensamentos; e os infiéis têm-no feito claramente; mas Deus não pode. Que loucura! Que arrogância! Por que razão, é lícito perguntar, não pode Deus revelar os Seus pensamentos às suas criaturas? Porque há de se pensar que isso é uma cosia incrível? Por nenhuma razão, mas simplesmente porque os infiéis assim querem.

O desejo é, neste caso, seguramente pai do pensamento. A pergunta formulada pela antiga serpente, no jardim do Éden, há aproximadamente seis mil anos, tem sido transmitida, de século para século, por toda classe de cépticos, racionalistas e infiéis, isto é: "E assim que Deus disse?" Sim, respondemos nós, com muito prazer; bendito seja o Seu santo Nome, Ele tem falado — tem-nos falado a nós. Tem revelado o Seu pensamento; tem-nos dado as Escrituras Sagradas: 


"Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído par toda a boa obra"(2 Tm 3:16-17)

"Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança" (Rm 15:4).

Louvado seja o Senhor por tais palavras! Elas asseguram-nos que toda a Escritura é dada por Deus, e que toda a Escritura nos é dada a nós. Precioso vínculo entre a alma e Deus! Quem poderá contar o valor de tal vínculo? Deus tem falado — tem-nos falado a nós. A sua Palavra é uma rocha contra a qual se desfazem todas as ondas do pensamento infiel em desprezível impotência, deixando-a em sua força divina e eterna estabilidade. Nada pode afetar a Palavra de Deus. Nem todos os poderes da terra e do inferno, nem os homens nem os demônios juntos podem jamais remover a Palavra de Deus. Ela permanece em sua própria glória moral, a despeito de todos os assaltos do inimigo, de século para século. "Para sempre, ó SENHOR, a tua palavra permanece no céu." "...Engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome." Que nos resta? Precisamente isto: "Escondi a tua palavra no meu coração para eu não pecar contra ti." Nisto consiste o profundo segredo da paz.

O coração está unido ao trono, sim, ao próprio coração de Deus por meio da Sua preciosíssima Palavra e está assim em possessão de uma paz que o mundo não pode dar nem tampouco tirar. Que podem conseguir as teorias, os argumentos e o raciocínio dos infiéis? Absolutamente nada. Têm tanto valor como o pó da eira no verão. Para aquele que tem aprendido realmente, pela graça, a confiar na Palavra de Deus — a descansar sobre a autoridade da Sagrada Escritura — as obras que os infiéis têm escrito são inteiramente desprezíveis, abstrusas [confusas], ineficazes; demonstram a ignorância e a terrível presunção dos seus autores; mas quanto à Escritura, deixam-na precisamente onde sempre tem estado e estará, "permanece no céu" tão firme como o trono de Deus. 


Os ataques dos infiéis não podem atingir o trono de Deus, nem tampouco podem afetar a Sua Palavra; e, bendito seja o Seu Nome, tampouco podem perturbar a paz que brota do coração que descansa sobre esse fundamento imperecível: "Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço" e "...a palavra do nosso Deus subsiste eternamente." 

(Continua)

Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Deuteronômio.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Palavra de Deus - Parte 2



O Homem Natural é Inimigo de Cristo e da Palavra de Deus, este Livro julga o homem — julga os seus caminhos - julga o seu coração. Conta-lhe a verdade a seu próprio respeito. Por isso o homem não gosta do Livro de Deus. Um homem inconvertido prefere antes um periódico ou uma novela sensacional em vez da Bíblia. Lerá antes o relato de um julgamento num dos nossos tribunais em vez de um capítulo do Novo Testamento. Daí o esforço constante para encontrar defeitos no bendito Livro de Deus.

Os infiéis, em todos os tempos e de todas as classes, têm laborado com afinco para descobrir falhas e contradições na Sagrada Escritura. Os denotados inimigos da Palavra de Deus não se encontram somente nas fileiras dos vulgares, dos rudes e pervertidos, mas entre os educados, os polidos e civilizados. Assim como era nos dias dos apóstolos, em que "alguns homens perversos dentre os vadios" e "algumas mulheres religiosas e honestas" — duas classes tão afastadas uma da outra social e moralmente — encontraram um ponto em que podiam cordialmente concordar, isto é, a inteira rejeição da Palavra de Deus e daqueles que a pregavam (compare-se Atos 13:50 com 17:5), assim nós encontramos sempre homens que, discordando quase em tudo, concordam na sua decidida oposição à Bíblia.

Outros livros são deixados em paz. Os homens não se preocupam em achar defeitos em Virgílio, Horácio, em Homero ou Herodoto; mas não podem suportar a Bíblia porque ela lhes expõe e diz a verdade a respeito deles e do mundo a que pertencem. E não sucedeu exatamente o mesmo com a Palavra vivente — o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, quando aqui andou entre os homens? Os homens aborreceram-No, porque Ele lhes disse a verdade, o Seu ministério, as Suas palavras, a Sua conduta, toda a Sua vida era um perene testemunho contra o mundo; daí a amarga e persistente oposição que Lhe moveram; outros homens foram tolerados; mas Ele era vigiado e espiado em todos os Seus passos. Os grandes chefes e guias do povo consultavam entre si como "o surpreenderiam nalguma palavra"; buscando ocasião contra Ele a fim de que pudessem entregá-Lo à autoridade e poder do governador.

Assim foi durante a Sua maravilhosa vida; e, no final, quando o bendito Senhor foi cravado na cruz entre dois malfeitores, estes foram deixados em paz; não choveram insultos sobre eles, os principais dos sacerdotes e os anciãos não meneavam as suas cabeças ante eles. Não; todos os insultos, todo o escárnio, toda a grassaria* e cruel vulgaridade — tudo foi lançado sobre o divino Ocupante da cruz do centro. Ora, é conveniente compreendermos a fundo a verdadeira origem de toda a oposição à Palavra de Deus — quer seja à Palavra viva ou à Palavra escrita. Isto habilitar-nos-á a apreciá-la no seu verdadeiro valor.

O diabo aborrece a Palavra de Deus — aborrece-a com verdadeiro ódio; e por isso serve-se de descrentes instruídos para escreverem livros para provar que a Bíblia não é a Palavra de Deus, que não pode ser a Palavra de Deus, visto que há nela erros e contradições; e não apenas isto, mas que, no Velho Testamento, encontramos leis e instituições, hábitos e práticas indignos de um Ser misericordioso e benévolo! A todo este gênero de argumentos temos uma réplica breve e precisa; a respeito de todos estes incrédulos eruditos dizemos simplesmente que eles não conhecem absolutamente nada sobre a questão.

Podem ser instruídos, hábeis, pensadores originais e profundos, ilustres em literatura geral, muito competentes para darem uma opinião sobre qualquer assunto nos domínios da filosofia natural e moral, e muito capazes de discutir qualquer assunto científico. Além disso, podem ser muito amáveis na vida privada, caráteres verdadeiramente estimáveis, amáveis, bondosos, altruístas amados na sua vida privada e respeitáveis em público. Podem ser tudo isso, mas, sendo inconvertidos, e não tendo o Espírito de Deus, são completamente incapazes de fazer, muito menos de dar, um juízo sobre o assunto da Sagrada Escritura.

Se alguém totalmente ignorante em astronomia presumisse entrar em discussão sobre os princípios do sistema de Copérnico, estes mesmos homens de quem falamos o declarariam imediatamente incompetente para falar e indigno de ser escutado sobre tal assunto. Em resumo, ninguém tem o direito de dar uma opinião sobre um assunto que não conhece. Isto é um principio admitido por todos; e, portanto a sua aplicação ao caso presente não pode ser posta em questão. Ora, o apóstolo inspirado diz-nos, na sua primeira epístola aos Coríntios, que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Isto é concludente. Fala do homem no seu estado natural, seja qual for a sua instrução ou a sua cultura. Não fala de qualquer classe especial de homens; mas simplesmente do homem no seu estado inconvertido, o homem destituído do Espírito de Deus. Alguém pode imaginar que o apóstolo se refere ao homem num estado de barbárie ou de selvagem ignorância? De modo nenhum; refere- se simplesmente ao homem natural, seja um ilustrado filósofo ou um ignorante palhaço.

"Não pode compreender as coisas do Espírito de Deus." Como pode então ele formar um juízo ou emitir um parecer quanto à Palavra de Deus? Como pode tomar sobre si a responsabilidade de dizer o que é ou que não digno de Deus escrever e se for bastante audacioso para o fazer — e infelizmente é! — quem será tão néscio que queira escutá-lo?- Os seus argumentos são infundados; as suas teorias desprezíveis; os seus livros são apenas próprios para o cesto dos papéis. Tudo isto, note-se, baseado no princípio universalmente admitido e acima acentuado de que ninguém tem qualquer direito a ser ouvido sobre um assunto do qual é totalmente ignorante.
  


* Nota pessoal: A transcrição do texto utiliza o termo "grassaria". Entendo que o mais adequado talvez fosse "grosseria" pelo contexto, mas não tive acesso ao original para saber qual a expressão correta. 

Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Deuteronômio.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Palavra de Deus - Parte 1




(...) "toda a Escritura divinamente inspirada é" (2 Tm 3:16).

Palavras preciosas! Ah, se fossem entendidas de um modo mais completo nestes nossos dias! É da maior importância que o povo do Senhor esteja arraigado, fundado e estabelecido na grande verdade da inspiração plenária da Sagrada Escritura. É de recear que a lassidão quanto a este importante assunto se vá estendendo na igreja professa a uma aterradora proporção. Em muitos setores tem chegado a ser moda tratar com desdém a ideia da inspiração plenária¹. É considerada como verdadeira criancice e sinal de ignorância. É admitido por muitos que é indício de uma profunda educação literária, de ideias liberais e de originalidade intelectual, ser-se capaz, por livre crítica, de achar defeitos no precioso livro de Deus.

O homem toma a liberdade de julgar a Bíblia como se ela fosse uma mera composição humana. Aventura-se a pronunciar-se sobre o que é e o que não é digno de Deus. De fato, isto equivale efetivamente a julgar Deus. O resultado imediato é, como podia esperar-se, profundas trevas e confusão tanto para esses mesmos eruditos doutores como para todos os que são tão néscios que os escutam. E quanto ao futuro, quem pode conceber o destino eterno de todos os que terão de responder ante o tribunal de Cristo pelo pecado de blasfêmia contra a Palavra de Deus e por desviarem centenas de almas com o seu ensino infiel?

Não ocuparemos, contudo, o tempo detendo-nos sobre a estultícia dos infiéis e céticos — embora chamados cristãos — ou os seus mesquinhos esforços de desacreditar o incomparável volume que o nosso benigno Deus mandou escrever para nosso ensino. Um dia eles reconhecerão o seu erro fatal. Deus queira que não seja demasiado tarde! E, quanto a nós, que seja o nosso maior gozo e consolação meditar sobre a Palavra de Deus, a fim de podermos descobrir sempre novos tesouros nessa mina inesgotável — quaisquer novas glórias nessa revelação celestial!


(...) 

Não ficamos nós constantemente surpreendidos com o seu maravilhoso poder de adaptação ao nosso próprio estado e aos dias em que caiu a nossa sorte? Fala-nos com elevação e frescura como se fosse escrita expressamente para nós — escrita neste mesmo dia. Nada há como a Escritura. Tome-se qualquer escrito humano da mesma época do livro de Deuteronômio, e, se puderdes lançar mão de algum livro de há três mil anos, que encontrareis? Uma curiosa relíquia da antiguidade, alguma coisa para ser colocada num museu lado a lado com alguma múmia egípcia sem ter qualquer aplicação a nós ou aos nossos tempos, um documento cediço, uma peça de escrita obsoleta, praticamente inútil para nós, referente a um estado de sociedade e a uma condição de coisas passadas e enterradas no esquecimento.

Pelo contrário, a Bíblia é o livro para estes dias. É o Livro de Deus, a Sua perfeita revelação. É a Sua própria voz falando a cada um de nós. É um livro para todas as épocas, para todos os climas, para todas as classes, para todos os estados, elevado ou baixo, rico ou pobre, culto ou ignorante, velho ou novo. Fala uma linguagem tão simples que uma criança pode entendê-la; e, no entanto, tão profunda que o mais gigantesco intelecto não pode esgotá-la. Além disso, fala diretamente ao íntimo do coração; toca as fontes mais profundas do nosso ser moral; penetra no recôndito das raízes do pensamento e sentimento da alma; julga- nos completamente. Em suma, é, como nos diz o apóstolo inspirado: "viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4:12).

E, além disso, note-se o seu maravilhoso alcance. Trata com tanta precisão e energia dos hábitos e costumes, maneiras e máximas do décimo nono século da era cristã como dos próprios séculos da existência humana. Mostra um perfeito conhecimento do homem em qualquer época da sua história. Londres dos nossos dias e Tiro de há três mil anos estão retratadas com igual precisão e fidelidade nas páginas sagradas. A vida humana, em qualquer grau do seu desenvolvimento, está descrita por mão de mestre nesse volume maravilhoso que o nosso Deus tem graciosamente escrito para o nosso ensino. Que privilégio possuir tal Livro! Podermos ter em nossas mãos uma revelação divina! Ter acesso a um Livro no qual cada linha é dada por inspiração de Deus! Ter uma história divinamente concedida do passado, do presente e do futuro! Quem pode apreciar devidamente um tal privilégio como este?

(Continua)

¹ Inspiração plenária significa que a inspiração se estende desde às palavras escolhidas (verbal) aos conceitos, ideias e temas tratados nas Escrituras (plena).

Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Deuteronômio

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Eutanásia



Estava ouvindo um programa de rádio que diariamente debate os principais assuntos em pauta na mídia e um dos temas do dia foi: “Abreviar a vida de quem sofre terrivelmente, sem perspectiva de melhora, pode ser a melhor resposta que um médico pode dar”. Esta é a opinião do médico holandês Rob Jonquière publicada pela revista VEJA com o enunciado “Eutanásia, um ato de amor”. 

Muito me admirou a concordância unânime dos participantes e ouvintes que se manifestaram sobre o direito humano de atentar quanto à própria vida, ou dos familiares de autorizar o ato a fim de poupar o sofrimento nos casos de doenças declaradas irreversíveis. Ouvi coisas como “Deus há de entender”, “Um leito de UTI custa caro”, “existem sofrimentos onde a alma já está negociando com Deus”.

Quão miserável é o homem que acha que pode negociar com Deus, Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma? Marcos 8:37.” Sem dúvida a medicina humana pode declarar certas doenças incuráveis e irreversíveis. A questão não é simplesmente a vontade sincera de obter cura e alívio para o mal, ou a vida no corpo que possui uma natureza corrompida e por isso adoece e morre. Recentemente escrevi aqui uma reflexão sobre um livro que romantizou o suicídio assistido de um tetraplégico e virou best seller e agora mais uma vez o tema voltou mostrando-se cada vez mais popular e natural. A questão é eterna. O alívio imediato é garantia do que diante de uma alma imortal?

Existiu um homem que relatou um sofrimento intenso da seguinte forma: Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte
e ainda Poderia contar todos os meus ossos. Eram os sofrimentos de Jesus Cristo (Salmos 22:14,15;17). Muita coisa além do sofrimento físico estava envolvida no episódio da cruz, e simplesmente imaginá-lo fez com que Ele dissesse: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. Lucas 22:42”.

"Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" João 18:11

Eutanásia quer dizer em sua origem grega “morte boa” ou fácil. Abreviar a dor como dissera. Não há espaço em um coração crente para duvidar da disposição do Senhor Jesus Cristo em cumprir a obra segundo a vontade do Pai em perfeita obediência e condução do Espírito Santo:Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" Filipenses 2:6;8. Jesus sendo Deus quando feito homem não usurpou ser igual a Deus e por tão pouco o homem sendo pecador arruinado usurpa desse direito que não é direito é rebelião! Tudo isso é o exemplo de que do começo ao fim, independente do tamanho da dor, bendita seja a vontade de Deus declarada na sua palavra.


Não há dúvidas de que a angústia e sofrimento tenham seu lugar e seja motivo de reflexão para quem sofre a dor e para quem está em volta sofrendo junto. Mas quem de nós sabe os planos de Deus e todas as obras invisíveis que ele opera nos corações dos homens diante dessa breve tribulação do homem nesse mundo? Não saber quais são estes planos nos detalhes não justifica o desejo de abreviar a vida, pois se somos crentes temos o Espírito Santo para nos consolar durante esse momento e se não cremos quão mais assustadora se torna esta decisão que poupa o corpo do sofrimento presente para ter a alma lançada no tormento eterno!

"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?" Romanos 8:35


Os nossos sofrimentos têm seu propósito, e em muitos casos vemos que a doença leva mais homens a Cristo de que momentos religiosos e de gozo do mundo. Deus é amor, disseram no programa de rádio. Sim, Deus é amor, e sem duvidas em cada minuto de nossas vidas ele está derramando seu amor, seja atraindo os incrédulos a Cristo pelo sofrimento de um amado cristão ou velando até o último segundo de vida de um incrédulo na tentativa de convertê-lo para que se salve. Precipitar a morte seria apenas a vitória de Satanás na sua missão de afastar o homem de Deus.


"Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;
Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas."


2 Coríntios 4:16-18